segunda-feira, 28 de março de 2011

Beber com moderação diminui colesterol e o risco de problemas no coração

Álcool pode ser aliado da saúde quando usado com parcimônia, dizem especialistas

Camila Neumam, do R7

O uso moderado de bebida alcoólica pode trazer benefícios à saúde, segundo dois estudos desenvolvidos na Universidade de Calgary, no Canadá, divulgados nesta semana.

Em um deles, o professor Willian Ghali mostra que as pessoas que bebem moderadamente têm 25% menos chances de desenvolver problemas cardíacos, na comparação com indivíduos que sofreram ou morreram de doenças do coração.

Outro estudo, conduzido por Susan Brien, da mesma universidade, considera que o consumo moderado de álcool (até uma dose de bebida ou 15 g por dia para mulheres e até duas bebidas ou 30 g de álcool para homens) aumenta significativamente os níveis de colesterol considerado bom, o que cria um efeito protetor contra doenças cardíacas.

Para o endocrinologista João César Castro Soares, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), esses benefícios só ocorrem se o consumo for realmente moderado.

Para isso, ele indica como o ideal tomar diariamente uma dose de 40 ml de bebida destilada (equivalente a de um dosador), que pode ser uísque, vodca ou cachaça, ou 150 ml de vinho (uma taça) ou, no máximo, uma lata de cerveja. Se passar de uma dose de uma dessas bebidas, os benefícios citados caem por terra, abrindo espaço a problemas de saúde.

- Quando você bebe essa quantidade pequena de álcool, ela ajuda o organismo a diminuir o LDL, que é o colesterol ruim, e a aumentar o HDL, que é o colesterol bom, que protege o coração. A bebida tem ainda efeito vaso dilatador, que melhora a circulação.

Uva é o segredo

A uva presente no vinho, em especial, tem papel importante na prevenção de doenças cardíacas, segundo Ricardo Pavanello, supervisor da cardiologia do Hospital do Coração. Isso porque duas substâncias presentes na fruta – flavonoides e o tanino – inibem o entupimento das artérias do coração.

- [Pesquisas indicam] que o vinho protegeria as camadas mais internas das artérias [o endotélio], que é onde se formam as placas de gordura.

Nesse caso, a moderação, já tão reforçada pelos médicos, deve também ser cuidadosamente levada em conta por quem já te problema no coração e diabetes, explica Pavanello. Isso porque o álcool se transforma em glicose no organismo

- Quatro a cada dez pacientes cardiopatas são diabéticos. Então, recomendar bebida alcoólica indiscriminadamente para todo individuo que tem uma doença cardíaca é uma temeridade. Para o doente cardiopata, [o álcool] pode exercer o efeito protetor, desde que seja moderadamente.

O cardiologista frisa que a recomendação deve ser seguida somente para quem tem hábito de beber.

- Não se recomenda usar o álcool como tratamento para quem não tem hábito de beber. É até recomendável que se reduza em quem já bebe. O álcool aumenta a glicose e a glicose aumenta as triglicérides, que são gorduras, e isso é um perigo grande para o organismo e aumenta a chance de o indivíduo ter obstrução das artérias. Você vai surtir o efeito inverso se recomendar para todos.

Custo benefício

Para a diretora do Cratod (Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas), Marta Jezierski, o álcool em si não traz benefício à saúde. Ao considerar o efeito do vinho, ela diz que o suco de uva faz tão bem quanto a bebida alcoólica.

- O vinho pode até fazer bem, mas na balança do custo-benefício, o mal que o álcool faz, não compensa. Essa é a dose mínima que um ser humano pode usar para não ficar intoxicado.

Segundo Marta, o álcool é uma molécula muito pequena que tem o poder de lesar tudo o que “vê pela frente”, irritando mucosa, esôfago, estômago e, no longo prazo, causa acúmulo de gordura no fígado, que leva a uma doença chamada de esteatose hepática. Quando o ato de beber muito se torna frequente, há ainda o grande risco de desenvolver cirrose (nódulos no fígado que causam fibrose e impedem a boa circulação dos vasos sanguíneos no órgão).

A diretora do Cratod ainda salienta que o uso da bebida como tratamento pode piorar quadros de pessoas que têm sensibilidade no fígado.

- A bebida moderada não é para todo mundo e os benefícios para o coração não valem os malefícios. Do ponto de vista médico, é tudo dose de bebida. É bobagem dizer que uma é mais saudável do que outra.


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